domingo, dezembro 31, 2006
sábado, dezembro 30, 2006
Projecto25 – O início
O fim de ano está a chegar e é tempo de balanço. Não é a primeira vez que tenho de sentar e fazer esse exercício sobre o Projecto25, mas é a primeira vez que sou incentivado a faze-lo por escrito. E esta situação traz-me dois problemas: primeiro, eu sou a pessoa mais suspeita para fazer uma análise sobre o projecto. Segundo, o espaço que me foi destinado não é suficiente para fazer um verdadeiro balanço e apresentar conclusões. Por isso o que agora apresento é um resumo da história do Projecto25 e uma breve análise do trabalho feito.
Para se analisar a actividade do Projecto25 é preciso recuar no tempo. A ideia surgiu-me há cerca de 10 anos quando tomei consciência da falta de actividade cultural independente no concelho de Mafra, ou seja a oferta cultural no concelho praticamente se resume à programação da Câmara Municipal de Mafra (CMM). Não interessa agora discutir as opções e a qualidade dessa programação, o que interessa é que ela existe e só não a segue quem não quer, ou não pode. Na altura pensei que seria positivo criar uma associação de artistas capazes de ampliar e diversificar a oferta. Uma associação que, embora pudesse beneficiar de subsídios e outros apoios, não visse a sua existência e actividade dependente dos mesmos. De imediato percebi por que é que havia essa falta de actividade independente. As pessoas por aqui gostam da papinha servida na cama e o marasmo é uma nódoa na paisagem.
Ao fim de algum tempo quase abandonei a ideia, apenas quase. Em vez disso deixei-a amadurecer, e mudei de estratégia. Fui fazendo algumas coisas às quais atribuía a iniciativa ao Projecto25, nome que surgiu por volta do ano 2000, depois de uma aventura musical com uns amigos e, a sempre presente, Marta Cravina.
No início de 2004 com ajuda do Adriano Alcântara e a colaboração de amigos poetas, recomecei a publicar a fanzine Número Zero (os três primeiros números datam de 1998). Depois de um ano de edição mensal tive de por de parte esse projecto, pelas mais diversas razões. Mais uma vez não desisti, deixei-o hibernar por tempo indeterminado. No entanto, achei que o projecto merecia uma despedida digna e resolvi criar, a partir de textos publicados na fanzine, um espectáculo poético teatral.
Para levar a bom porto as minhas intenções apresentei o projecto à CMM e convidei a Marta Cravina para trabalhar comigo. Ensaiámos o espectáculo no meu pequeno atelier de pintura. Não foi fácil mas conseguimos lidar bem com a situação. A peça “Espectros do Fingimento” estreou no dia 12 de Fevereiro de 2005 no Auditório Beatriz Costa em Mafra. O espectáculo correu bem. O público, na sua maioria amigos e conhecidos, reagiu com criticas positivas. Estes factos levaram-nos a fazer uma nova proposta a CMM, desta vez para apresentar a peça no Auditório da Casa da Cultura Jaime Lobo e Silva na Ericeira. Eu e a Marta começámos a acreditar que era possível fazer teatro e criarmos um grupo, por isso decidimos convidar mais gente para integrar o projecto. A única “vitima” foi o César Simões que, apesar de não termos mais nada para oferecer para além da nossa carolice, aceitou juntar-se a nós. Nesse dia o Projecto25 tornou-se realidade.
Por qualquer razão que eu desconheço a CMM não nos deu resposta para a nossa segunda proposta. Mas foi melhor assim. Quando sentimos que podíamos ir para o palco com a nova versão do espectáculo, concluímos que face àquele silêncio tínhamos de procurar alternativas. Contactámos a direcção da Casa do Povo de Mafra que para além de nos ceder o palco, ofereceu-nos a possibilidade de trabalharmos projectos futuros nas suas instalações. Nós só podíamos aceitar, pois saltamos de uma sala de ensaio de meia dúzia de metros quadrados para uma muitas vezes superior, em tamanho e qualidade, e com a garantia de termos um palco disponível para nos apresentarmos.
Começámos a trabalhar, como grupo residente da Casa do Povo de Mafra, em Outubro de 2005. Estreamos a peça “Nunzio” de Spiro Simone a 10 de Fevereiro de 2006, com encenação da Marta Cravina. O Rui Fradinho e eu fizemos dupla na interpretação. O Rui já nos tinha dado uma ajuda, e continua a dar, no campo da sonoplastia. Menos de um mês depois fomos convidados a apresentar novamente a peça “Espectros do fingimento”, desta vez na Escola Secundária José Saramago. A 25 de Março estreámos a peça “A Sena de Jorge” para assinalar os Dias Mundiais da Poesia e do Teatro. O texto foi escrito em co-autoria e representado por César Simões e por mim. Em Maio iniciámos uma série de tertúlias já com mais elementos, Ricardo S. Ramos, Mónica Alcântara e Manuela Coelho. Com estes novos elementos foi possível estrear a 28 de Outubro as peças “A Morte chama” e “Comecting People”.
Infelizmente não posso fazer uma análise individual dos espectáculos acima mencionados, pois cada um precisava de outro texto igual a este ou maior. Sendo assim, digo apenas que cada espectáculo foi uma experiência de descoberta de novos horizontes. Cometemos erros e haveremos de cometer mais, houve problemas, houve soluções e acima de tudo criou-se um grupo que gosta de trabalhar em conjunto. Recebemos recentemente mais três novos elementos; a Ana Ferreira, a Tania e o Nuno.
Para acabar tenho de acrescentar que o Projecto25 não seria possível sem a colaboração de: Skim (Iluminação) Ricardo Topas (sonoplastia), Mário Lino (cenografia), Jorge Vadio (Música), Gritt Ernst.(Guarda roupa). Também quero agradecer ao público que tem assistido aos nossos espectáculos e que aos poucos temos conquistado.
João Cortêz 28/12/2006